quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

DOR II

Eu acordei... Acho que nem dormi.
Não senti sono esta noite, não sei por quê... Na verdade, eu não sinto nada a muito tempo... Estranho dizer isso, pois, as pessoas podem pensar que eu estou me descrevendo insensível, mas não sou insensível. Eu sinto algo... Sinto minhas mãos, sinto a fome que me consome esta madrugada... Quer saber?!  Eu vou preparar uma vitamina.
Enquanto corto as frutas eu penso, novamente, nisso de sentir... Por que as pessoas tem a necessidade de não estarem se sentir bem para se sentir bem? Parece redundante nas não é! Por que eu tenho de estar me sentindo feliz, de bem com a vida para acordar alegre?  Tenho todos os motivos pra acordar com um sorriso transbordando a face. Mas eu não estou assim... Não estou sentindo nada, propriamente falando...
Esta noite ela veio pra fazermos as pazes. Claro que depois de mais de seis meses sem ela eu queria fazer as pazes, mas eu não entendo o motivo que eu não sentir nada... A noite foi maravilhosa. Fomos jantar, dançamos... Coisa que nunca fizemos... Fomos ao meu apartamento para ficarmos a sós e fizemos amor a noite toda...
Eu me levanto de madrugada sem conseguir dormir, não sentindo nada... Acredito que não sentia nada a muito tempo. Por ela eu sinto muita coisa: amor, ódio, tesão, admiração... Mas esta manhã... Ainda tenho esses sentimentos por ela, mas eu levantei sem sentir nada mais... Nem a dor de cabeça corriqueira depois de uma noitada,  nem aquela distensão que me ataca sempre pelo final da madrugada, por conta do frio, nem sono, nem o frio da manha... Não, o frio eu consigo sentir. Quem não consegue sentir esse frio da madrugada tão forte? Mas não me importo muito com o frio.
Eu me perco tanto nesses pensamentos e reflexões que chega o meio dia e eu não termino essa vitamina. Coloco tudo bem cortado no liquidificador: banana, mamão, maçã, uva, hortelã, morangos que sobraram de ontem... Eu sei que ela vai adora essa vitamina... Mas eu não sinto que quero dá-la a ela. Não sinto mais nem vontade de tomar essa droga de vitamina! Mesmo assim, é como se a mente não mandasse mais no corpo e eu ligo o aparelho. O ruído é meio forte e eu sei que pode acordar muita gente, mas eu realmente não sinto nem vontade de me importar com isso...
Enquanto eu jogo as frutas, eu olho para dentro do copo de três litros do eletrodoméstico e vejo o redemoinho que o girar das lâminas fazem... É um tanto hipnotizante... Então sinto algo... Eu sinto algo... E isso me vem crescendo como se fosse líquido que me é jogado na cabeça e vai descendo lentamente pelo pescoço, passando pelos ombros... Quando chega aos ombros, se divide; parte vai pela coluna e a outra parte escorre pelos braços. Gelada essa sensação. Chega a ser até meio gostoso sentir isso... Até que esse frio chega a minha mão e eu sinto algo inesperado. Incontrolável.


...


Acho que ela despertou com meu grito. Estranho, mas ela fica ainda mais bonita quando esta nesse estado de desespero... Finalmente eu acabe por sentir algo: Sinto que a amo mais. Após um longo período sem ela e, de mesmo tom, sem sentir nada por ninguém eu acabei por me congelar. Acho que foi isso mesmo, pois, não sentir nada, nada mesmo, é estranho de mais pra alguém como eu. Eu que sempre me dei mal por ser quem mais sofria nos meus relacionamentos de modo geral... Com meus amigos, minha família, meus amores.
For necessária uma dose grosseira de adrenalina inundando meu organismo para me acorda. Eram golfadas fortes de adrenalina! Foi uma experiência forte! Precisava sentir algo logo se não eu morreria.
Morreria de tédio de mim mesmo ou mesmo morreria mais ainda por dentro. Precisava de um milagre ou algo muito forte pra acordar dessa letargia, desse estado de zumbi em que eu me encontrava. Em que estava meus sentidos, meu coração... A única ocasião que encontrei, que consegui encontrar foi aquela... E só serviria se fosse ela...
Enquanto vamos o mais rápido possível ao hospital, eu, deitado no colo dela, a vendo chorar e me perguntar o motivo de eu ter feito aquilo, se estava louco ou algo assim, só consegui falar uma coisa:
- Quer casar comigo?
Também senti outra coisa depois de tudo isso. Sinto que a vitamina tenha sido estragada.

Pena... Ia ser uma ótima vitamina.

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